segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Entenda a importância dos trabalhos de vencedores do Nobel de economia

Ganhadores do prêmio 'quebraram paradigmas', diz professor.
Modelos estatísticos identificam causa e efeito de eventos macroeconômicos.

Os trabalhos premiados com o Nobel de Ciências Econômicas de 2011 são modelos para tentar “prever o futuro” da economia e auxiliar na tomada de decisões. Os norte-americanos Thomas Sargent e Christopher Sims foram laureados por suas pesquisas empíricas sobre causa o efeito na macroeconomia – métodos desenvolvidos para determinar as relações entre as diferentes variáveis macroeconômicas, como PIB, inflação, emprego e investimentos.

O objetivo dos trabalhos é tentar antecipar, através de métodos estatísticos, quais serão as consequências de determinado evento econômico – como uma alta no preço do petróleo, uma mudança na taxa básica de juros ou uma queda repentina no consumo, ou a expectativa a respeito de um evento econômico – afeta as demais variáveis macroeconômicas, e se esse evento é causa ou consequência de outra ação.

Uma das dificuldades em entender o funcionamento da economia é a relação de reciprocidade existente entre os vários fatores: a política econômica pode influenciar o desenvolvimento econômico – e o inverso também pode ser verdadeiro. Da mesma forma, o governo age de acordo com as expectativas do setor privado, enquanto o setor privado age esperando determinadas decisões dos agentes do governo.

Embora não sejam o mesmo, os trabalhos de Sims e Sargent são complementares. Sargent buscou compreender os efeitos das mudanças sistemáticas nas políticas econômicas, enquanto Sims trabalhou com os efeitos dos “choques” sobre a economia como um todo.

“O prêmio foi dado para uma técnica estatística. [O trabalho] serve para identificar o que é causa e o que é efeito”, explica Fabio Kanczuk, professor de economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).

“É melhorar as técnicas estatísticas para saber o que causou o que”, diz ele. “E fazer experimentos: se o BC aumentar os juros, qual vai ser o efeito disso sobre a inflação?”.

Passado e futuro
De acordo com o comitê do Nobel, a maior contribuição dos pesquisadores foi mostrar que as relações de causa e efeito entre variáveis macroeconômicas podem ser analisadas usando dados históricos, mesmo em casos de relações recíprocas.

“A tradição que usamos é usar a combinação de estatísticas e modelos para dizer o que podemos sobre o mundo. Somos basicamente historiadores, vamos ao passado para nos dar pistas do que acontecerá no futuro. Também trabalhamos na tradição de que é preciso um modelo para se criar um modelo. Construímos modelos onde as expectativas das pessoas sobre o que o governo fará são realmente importantes”, afirmou Sargent a jornalistas em evento na Universidade de Stanford.

“Gosto de pensar no prêmio como representando uma abordagem para economia que insiste em reconhecer as incertezas de nossas análises e usá-las oficialmente em estatísticas, em modelos que podem melhorar a tomada de decisões”, afirmou Sims no mesmo evento.

O professor Kanczuk explica que os dois laureados trabalharam de maneira diferente, mas sobre um mesmo assunto. Enquanto Christopher Sims trabalhou com modelos puramente estatísticos – “que ficavam projetando a influência de todo mundo em cima de todo mundo” – Thomas Sargent trabalhou mais fortemente sobre a teoria. “Se o governo emitiu mais moeda, algum dia isso vai para os preços, mas pode demorar infinitos períodos, e então se usa essa informação para identificar um modelo”, exemplifica Kanczuk. “A gente tem os dados do passado, quer prever o futuro”.

De acordo com Kanczuk, os trabalhos desenvolvidos por Sims e Sargent quebraram paradigmas da economia. “A história da macroeconomia mudou muito a partir da década de 1980. Até então, não se estudava a dinâmica, era muito mais a estática. Eles eram os que estavam pensando na quebra de paradigma. Depois o que se viu de desenvolvimento nesse sentido foi mais marginal”.

Hoje, segundo o professor, as técnicas desenvolvidas pelos economistas são muito difundidas e usadas pelos bancos centrais de todo o mundo. “O próprio BC, no relatório de inflação, começou a citar que está usando um modelo novo [para estabelecer perspectivas macroeconômicas] que eles chamaram de Samba, que usa as técnicas do Sargent e do Sims dentro deles”.

Do G1, em São Paulo

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