sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Ebd -Lição 8 - O cristão e o caráter moldado pelo Espírito Santo

Vivendo a Vida Cristã Cl 3 e 4

Quando Paulo estava na prisão em Roma, recebeu uma visita da igreja em Colossos (1.7), de quem ficou sabendo que certa falsa doutrina estava sendo espalhada na igreja. Essa doutrina parecia ser uma mistura de ensinos cristãos, judaicos e pagãos. Ensinava que toda a matéria, inclusive o corpo, era essencialmente má, e, portanto, a santidade é conseguida mediante a punição e negligenciamento do corpo, com jejuns e outras formas de abstinência. Paulo refuta esse erro dizendo que a santidade não é atingida ao seguir regras feitas pelos homens, mas pelo contato com o Salvador vivo que nos dá o poder de viver acima do pecado.

1 - A União do Cristão com Cristo (Cl 3.1-4)

Esses versos nos ensinam as seguintes verdades com respeito à nossa vida em Cristo:

1. Sua direção: o Céu. "Portanto, se já ressuscitaste com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus". O Cristianismo é a união com Cristo mediante a fé. Ele morreu para o pecado; unidos com Ele, nós também morremos para com o pecado. Ele ressuscitou da sepultura; nós ressuscitamos com Ele para vivermos uma nova vida. Tudo isso é simbolizado no ba­tismo nas águas (Rm 6). A vida cristã, portanto, é uma vida vivida em comunhão com o Cristo ressuscitado, e à medida que estamos em comunhão com Ele, fixaremos nossos afetos nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra.

2. Sua natureza escondida (v. 3). "Porque já estais mortos". Os homens são pecadores por dois motivos: têm uma natureza pecaminosa e cometeram atos de pecado. No Calvário, Deus fez duas coisas: perdoou os nossos pecados e condenou a natureza pecaminosa que os produziu. Quando aceitamos a Cristo, nossos peca­dos foram perdoados, e morremos para com a vida an­tiga. Mas o que acontece quando tomamos consciência da existência da velha natureza? Devemos condená-la, tomar partido contra ela e considerar-nos mortos para ela (Rm 6.11).

"E a vossa vida está escondida com Cristo em Deus". Não é de se estranhar que o mundo não possa entender os verdadeiros cristãos! Se o mundo não conhece a Cristo, como pode entender os seus seguidores? (1 Jo 3.1). Quan­do as pessoas, mediante o novo nascimento, entram nesta vida "oculta", então a entendem (1 Co 2.14).

3. Sua futura manifestação (v. 4). Quando cantamos: "Sou filho do Rei", o mundo ri e nos chama de fanáticos e sonhadores, porque julga pelas aparências externas. Quan­do, porém, Cristo vier, assumiremos nossas vestes como filhos do Rei (Fp 3.21; Rm 8.18-23; 1 Jo 3.2).

II - O Cristão Separa-se do Pecado (Cl 3.5-14)

Unido ao Cristo vivo, o crente morreu para o pecado e vive para a retidão. O que deve ser feito, porém, quando a velha natureza quer ressurgir, e apetites errados procuram predominar? Paulo usa duas ilustrações que apontam o caminho para a libertação.

1. A antiga natureza precisa ser morta. "Mortificai, pois, os vossos membros que estão sobre a terra". Em virtude da sua fé em Cristo, o convertido morre para com a sua velha natureza. "Porque já estais mortos". Porém, mais cedo ou mais tarde, descobre que a antiga natureza se mostra de maneiras que o perturba. O que fazer? A antiga natureza não pode ser alimentada, precisa perecer por inanição (Rm 13.14). Um membro do corpo morre quando o sangue não vai para ele. Da mesma maneira, apetites errados morrem quando nossos pensamentos e nossas energias são retira­dos deles. Quanto mais alimentada a nova natureza, mais faremos a antiga natureza perecer de fome.

O que devemos fazer morrer? Desejos errados de todos os tipos (ver v. 5). Note que esse verso trata do sexo e da busca do dinheiro - representando dois instintos poderosos da natu­reza humana. O poder de cooperar com o Criador, trazendo filhos ao mundo, é coisa santa; o desejo de trabalhar e ganhar dinheiro para sustentar os dependentes é um dever. Mas quan­do esses instintos são pervertidos até serem concupiscência e cobiça, transformam-se em maldição. Na leitura dos jornais pode-se notar que estão na raiz de quase todos os crimes.

2. A antiga natureza precisa ser despojada (v. 8). A ilustração é a de despir as roupas velhas e vestir roupas novas. Quais roupas precisam ser tiradas? Ira, indignação, linguagem obscena, mentira (vv. 8,9).

Quais roupas devem ser vestidas? (v. 12). Os cristãos são eleitos (escolhidos por Deus), santos (separados do mundo e dedicados a Deus), amados (desfrutando de íntimo relacionamento com Deus). Como devem viver tais pessoas? Devem cultivar e manifestar ("revesti-vos") mi­sericórdia, bondade, humildade, mansidão, longanimidade, um espírito de perdão, amor.

III - A Submissão do Cristão a Cristo (Cl 3.15,16,23,24)

As seguintes forças devem influenciar a vida do cristão:

1. A paz de Cristo (v. 15). O que é essa paz? É a calma e tranquilidade em face de todas as circunstâncias, base­adas na comunhão com Deus e na obediência à sua von­tade. Essa paz é um vínculo de união (cf. Ef 4.3) e um motivo de gratidão. Ser "árbitro" é reger ou ser juiz em nossos corações.

Paulo nos ensina que quando o coração está dividido entre emoções, pensamentos e reivindicações conflitantes, a paz de Cristo deve ser o árbitro entre eles. O que não é compatível com aquela paz é errado e deve ser excluído.

2. Esta paz é preciosa. Quando é perdida ao entristecer o Espírito, pode ser obtida de volta mediante o arrependi­mento e a confissão.

3. A palavra de Cristo (v. 16). A "palavra de Cristo" se refere geralmente a todos os ensinos acerca de Cristo. Quando é que habita dentro de nós? Quando constantemente a lemos e a fixamos em nossas memórias. A palavra deve habitar "ricamente"; deve ser estudada com regularidade e diligência. Deve ser em "toda a sabedoria", ou seja, deve ser entendida e não somente lida.

Note o emprego da "palavra de Cristo" no culto públi­co: "Ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros". O conhecimento de Cristo traz consigo o dever de compartilhá-lo com outros. Na igreja primitiva, o minis­tério da Palavra não foi confinado aos anciãos ou líderes da igreja. Qualquer pessoa que possuísse um dom espiritual - seja profecia, seja ensino, seja conhecimento, lín­guas ou interpretação - tinha licença de contribuir com o culto.

"Com salmos [do Antigo Testamento], hinos [hinos cris­tãos] e cânticos espirituais". O cântico ocupava boa parte dos cultos cristãos antigos. Como sabemos, o hino é um veículo excelente para carregar o Evangelho para dentro dos corações dos participantes.

4. Cristo é Senhor. Cada cristão é, em primeiro lugar, um servo de Cristo. "A Cristo, o Senhor, servis". Cristo deve ser em primeiro lugar. Que é a vida cristã senão uma vida vivida em comunhão com Cristo? É de Cristo que o cristão receberá a "recompensa da herança" (cf. Mt 25.34; 1 Pe 1.4).

Assim como Jesus estava ocupado com os negócios do seu Pai quando estava no banco do carpinteiro, e assim como Paulo estava servindo ao Senhor Jesus enquanto costurava tendas, também Cristo pode ser servido na fábrica ou na cozinha. A tarefa mais comum, feita por amor a Deus, re­veste-se com a dignidade de um serviço sagrado. O obreiro cristão fará seu serviço de tal modo que seja visto por Deus, e não pelos homens. De fato, todo o serviço cristão deve ter esse motivo. Para exemplos de serviços feitos para serem vistos pelos homens, leia Mateus 6.1-18.

IV - A Conduta do Cristão no Mundo (Cl 4.5,6)

1. Sua conduta. É especialmente no trato com as pesso­as do mundo que a sabedoria cristã é mais especialmente necessária. "Sede prudentes como as serpentes", disse Je­sus. O cristão deve viver de tal modo que convença os do mundo de que a piedade traz proveito nessa vida como também no porvir. Sua conduta deve mostrar que ser cren­te não furta um homem do seu bom senso, bom juízo e outras qualidades necessárias para uma vida condigna. O cristão deve ser bom pai, bom vizinho, bom cidadão e bom trabalhador.

"Aproveitai as oportunidades". O cristão deve mostrar sabedoria em selecionar os momentos mais oportunos para apresentar as reivindicações de Cristo.

2. Sua fala. O modo cristão de falar deve sempre agra­dar. Não se trata apenas do que dizemos, mas como o di­zemos. Deve ser saudável, "temperada com sal". A con­versa deve ser adocicada com a graça e também temperada com o sal de um propósito edificante. Quantas palavras se desperdiçam em conversas que não trazem proveito nem edificação! Uma boa regra seria: "Quando falar, diga algo!" Dois meninos estavam conversando acerca das suas res­pectivas mães. Um disse: "Minha mãe pode falar sobre qualquer assunto". Respondeu outro: "Isso não é nada! Minha mãe pode falar sem assunto algum!"

O que fala deve ser inteligente, "para que saibais como vos convém responder a cada um" (cf. 1 Pe 3.15; Fp 1.27,28).

V - Ensinamentos Práticos

1. Cristo, nossa vida. Não é recomendável enfatizar demasiadamente que Cristo é o sacrifício pelos nossos pecados. Não devemos, no entanto, negligenciar a verdade de que Ele é a nossa vida. Precisamos de um Salvador para fazer algo por nós e em nós. Quando estamos unidos a Ele pela fé, o Espírito torna real para nós o que Ele nos fez. Então, aquilo que é uma realidade externa se torna uma realidade interna, e podemos dizer como Paulo: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim" (Gl 2.20).

Quando alguém é "ressuscitado juntamente com Cristo" e sua "vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus", espera-se que a sua conduta seja consistente com a sua experiência. Ninguém pode alegar ser águia enquanto ras­teja como verme!

O que se espera de alguém que está "ressuscitado jun­tamente com Cristo"? Ele deve "buscar as coisas lá do alto". Buscar é fazer de alguma coisa o alvo ou padrão da nossa vida. A elevação de uma arma determina o voo da bala. Da mesma maneira, a atitude do nosso coração determina a direção da nossa vida. No enterro de um homem piedoso, o pregador perguntou: "Onde está ele?", e respondeu di­zendo: "Para onde estava indo a última vez que foi visto". É uma boa pergunta para os que vivem. Qual é a nossa direção? Qual é o alvo supremo das nossas vidas?

O que quer dizer "as coisas lá do alto?" Significa Cris­to, porque toda a realidade e todas as bênçãos se acham nEle. O alvo supremo da vida cristã é ser como Cristo, ser com Cristo, agradar a Cristo.

2. Morrendo para o pecado. Quando a pessoa não é salva, seu relacionamento com as coisas espirituais é mor­to; seu problema é entrar em contato com a vida que é de Deus. Depois de salvo, seu relacionamento com o mundo natural é descrito como de um morto (Cl 3.3); seu proble­ma é ficar fora do contato com a vida velha (Cl 3.5-9).

Depois de uma pessoa ser convertida, descobre que a vida antiga quer se asseverar e fica com forte vontade de romper com ela. A vida antiga começa a competir com a nova, e o convertido descobre que a sua alma é o cenário de uma guerra civil, em que a antiga e a nova lutam pela supremacia. Não deve tentar viver ambas as vidas. Andar na carne e no Espírito ao mesmo tempo é impossível.

O que pode ser feito? A solução mais fácil seria morrer, perder contato com a velha vida e ir para o Céu. Mas isso não é possível, e o suicídio é pecado. Sendo negada a morte física, há algum substituto temporário? Sim. Deus indicou uma maneira pela qual podemos morrer espiritualmente para a vida antiga e ainda viver aqui (ver Gl 2.20).

A morte física é causada pela perda total de contato com o ambiente que sustenta a vida. A morte para com o pecado é causada pela perda de contato com o ambiente que alimenta a vida antiga. Há três maneiras de efetuar isso.

2.1. A mutilação. Leia Mateus 18.9 e o comentário de Paulo sobre isso em Colossenses 3.5. Nosso Senhor não estava falando literalmente, porque sabemos que cortar o braço de um ladrão não alterará o seu coração. Jesus quis dizer que devemos tratar imediata e drasticamente com qualquer coisa que ameace a segurança da nossa alma. Não pode haver demora, nenhum meio termo e nenhuma redução gradativa. Por exemplo, um ladrão pode dizer: "Vou me reformar. Furtarei um milhão na semana que vem, depois meio milhão, até reduzir os furtos a nada". Mas Paulo disse: "Aquele que furtava, não furte mais". Deve haver uma morte completa para com o furto. Deve se libertar dele para que o hábito não o leve ao inferno. Esse princípio se aplica a qualquer hábito que arruína a alma.

2.2. A mortificação. Comparada com a mutilação, a mortificação é um processo gradativo (Rm 8.5-13). No caso de bebedeira, por exemplo, o problema é simples, porque trata-se de algo definido para ser abandonado, e o proble­ma se soluciona. No caso de seu gênio, por exemplo, é mais complexo, porque não podemos abandonar de vez as pessoas e situações que causam aquela reação. Não se trata de caso "cirúrgico", como o ladrão e o bêbado, a quem o Espírito a um só golpe pode libertar das más causas; o mau gênio ou qualquer outra emoção errada indicam que algo irritante perturbou a alma; o que se torna necessário é sarar os pontos doloridos e adocicar todo o íntimo. Mediante a comunhão com Deus e a meditação na sua Palavra, a alma é curada e adocicada e atinge aquela saúde radiante que é o alvo de toda a santidade prática.

A mortificação também inclui deixar a antiga natureza passar fome. Enquanto tomamos as nossas energias e emo­ções e as dirigimos na direção de Cristo, a antiga natureza morre de fome e se torna inativa. O pecado é a perversão das nossas energias e faculdades, e o remédio é a conver­são - mediante a qual entregamos aquelas faculdades a Deus (Rm 6.12-23).

2.3. A limitação. Entramos em dificuldades não somen­te por fazer coisas positivamente erradas, como também por praticar demasiadamente coisas que são legítimas - tais como o comer, o lazer, a leitura, e assim por diante. Daí a necessidade de negarmos a nós mesmos, que significa a disposição de abrir mão de coisas legítimas quando inter­ferem com o nosso progresso espiritual. É isso que Jesus quis dizer quando falou em "odiar" a nossa vida - ou seja, amar com um afeto bem menor (ver Lc 14.26). Pessoas que procuraram a felicidade nas coisas do mundo chega­ram a odiar a vida quando descobriram que foram engana­das. Essa é a maneira falsa de odiar a vida. A maneira certa de odiá-la é ter todas as coisas em subordinação à vontade de Deus (ver Mt 6.34) e contar tudo como perda compara­do com o reconhecimento de Cristo (Fp 3.7).

Bibliografia M. Pearlman

Nenhum comentário:

Postar um comentário