
A história é muito triste, porque envolve estupro, assassinato e guerra civil. O que aconteceu numa única noite acabou por dizimar uma tribo inteira (homens, mulheres e crianças) e provocou a morte de 65 mil soldados.
Certo casal, que morava na região montanhosa da tribo de Efraim, se desentendeu e ela resolveu voltar para a casa paterna, em Belém de Judá. Quatro meses depois, o marido foi procurá-la na casa dos sogros para salvar o casamento. Deu tudo certo e ambos voltaram para reiniciar a vida conjugal em Efraim -- ela num jumento e ele em outro. O empregado seguia a pé. Como começou a escurecer no trevo que levava a Gibeá, o casal resolveu passar a noite ao ar livre, na praça. Porém, passava por ali um homem idoso que vinha da roça para casa. Ele sabia que não era seguro o casal permanecer na praça e, gentilmente, os levou para casa. As duas famílias -- a dos hospedeiros e a dos novamente casados -- deram-se muito bem. Comeram, beberam e se alegraram até tarde da noite.
Quando estavam para pegar no sono, os homens de Gibeá cercaram a casa do velho, bateram à porta e exigiram que ele lhes entregasse não a mulher em trânsito, mas o marido dela para que eles abusassem sexualmente do pobre homem. O hospedeiro conseguiu proteger o hóspede, mas não a mulher dele. Os bissexuais levaram-na e abusaram dela até de manhã. Ao nascer do sol, lá estava a mulher morta estendida à porta da casa.
Indignado, o ex-separado e agora viúvo ajeitou o corpo da mulher num dos jumentos e seguiu viagem. Em casa, nas montanhas de Efraim, pegou um facão, cortou o corpo em doze pedaços e mandou um para cada tribo de Israel, inclusive para as que ficavam mais distantes, como as tribos do norte e do outro lado do rio Jordão. Isso provocou uma convulsão nacional: de Dã a Berseba, do Gerizim ao Nebo, tribos exclamavam: “Nunca se viu nem se fez uma coisa dessas desde o dia em que os israelitas saíram do Egito!” (Jz 19.30).
O que o homem queria, funcionou. Poucos dias depois, todos os líderes de todas as tribos fizeram uma assembleia perante o Senhor em Mispá, a dez quilômetros de Gibeá, o local do crime. Depois de ouvirem toda a história da vítima, tomaram a decisão unânime de exigir que a tribo de Benjamim entregasse os culpados, “os canalhas de Gibeá” (Jz 20.13, NVI).1 Como a intimação não foi atendida e a justiça precisava ser feita, as tribos partiram para medidas mais drásticas: declararam guerra à tribo de Benjamim. No final da história, foram travadas três furiosas batalhas, com muitas perdas em ambos os lados. A tribo culpada foi eliminada do mapa de Israel (homens, mulheres e crianças) e suas cidades, incendiadas. Apenas seiscentos benjamitas, todos do sexo masculino, conseguiram escapar e fugiram para o deserto. Quando a poeira finalmente assentou e toda a nação teve tempo para avaliar os estragos decorrentes de uma noite de orgia, a nação inteira chorou amargamente. Em voz alta, o povo se perguntava: “Ó Senhor, Deus de Israel, por que aconteceu isso? Por que está faltando uma das nossas tribos?” (Jz 21.3, NTLH).
Nota
1. “Canalha” é uma palavra muito forte. Ela está na Bíblia, na Nova Versão Internacional, para se referir a um grupo de homens que estuprou uma mulher a noite inteira, causando-lhe a morte.
Não é fácil traduzir o original hebraico que caracteriza esse tipo de gente. Versões católicas e protestantes variam muito. As traduções mais brandas usam as expressões “homens sem valor” (TEB), “homens imorais” (NTLH), “bandidos” (BJ e EP) e “homens malvados” (Bíblia Hebraica). Já outras versões falam de “pervertidos” (BP), “perversos” (BV), “depravados” (CNBB e AS21) e “celerados” (EPC). A Bíblia mais usada pelos protestantes (a tradução de Almeida Revista e Atualizada) prefere não traduzir a expressão original “filhos de Belial”.
Revista Ultimato
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