terça-feira, 10 de agosto de 2010

Como pode terminar uma noite de orgia sexual

Aconteceu em Gibeá, no território da tribo de Benjamim, perto de Jerusalém, no final do período dos juízes, há mais ou menos 3.100 anos (no ano 1.050 a.C.), pouco antes da instalação da monarquia de Israel, numa época em que prevalecia a moral particular e “cada um fazia o que achava mais reto” (Jz 21.25). Foi uma reprise do que havia acontecido em Sodoma cerca de mil anos antes (Gn 19.1-11).
A história é muito triste, porque envolve estupro, assassinato e guerra civil. O que aconteceu numa única noite acabou por dizimar uma tribo inteira (homens, mulheres e crianças) e provocou a morte de 65 mil soldados.
Certo casal, que morava na região montanhosa da tribo de Efraim, se desentendeu e ela resolveu voltar para a casa paterna, em Belém de Judá. Quatro meses depois, o marido foi procurá-la na casa dos sogros para salvar o casamento. Deu tudo certo e ambos voltaram para reiniciar a vida conjugal em Efraim -- ela num jumento e ele em outro. O empregado seguia a pé. Como começou a escurecer no trevo que levava a Gibeá, o casal resolveu passar a noite ao ar livre, na praça. Porém, passava por ali um homem idoso que vinha da roça para casa. Ele sabia que não era seguro o casal permanecer na praça e, gentilmente, os levou para casa. As duas famílias -- a dos hospedeiros e a dos novamente casados -- deram-se muito bem. Comeram, beberam e se alegraram até tarde da noite.
Quando estavam para pegar no sono, os homens de Gibeá cercaram a casa do velho, bateram à porta e exigiram que ele lhes entregasse não a mulher em trânsito, mas o marido dela para que eles abusassem sexualmente do pobre homem. O hospedeiro conseguiu proteger o hóspede, mas não a mulher dele. Os bissexuais levaram-na e abusaram dela até de manhã. Ao nascer do sol, lá estava a mulher morta estendida à porta da casa.
Indignado, o ex-separado e agora viúvo ajeitou o corpo da mulher num dos jumentos e seguiu viagem. Em casa, nas montanhas de Efraim, pegou um facão, cortou o corpo em doze pedaços e mandou um para cada tribo de Israel, inclusive para as que ficavam mais distantes, como as tribos do norte e do outro lado do rio Jordão. Isso provocou uma convulsão nacional: de Dã a Berseba, do Gerizim ao Nebo, tribos exclamavam: “Nunca se viu nem se fez uma coisa dessas desde o dia em que os israelitas saíram do Egito!” (Jz 19.30).
O que o homem queria, funcionou. Poucos dias depois, todos os líderes de todas as tribos fizeram uma assembleia perante o Senhor em Mispá, a dez quilômetros de Gibeá, o local do crime. Depois de ouvirem toda a história da vítima, tomaram a decisão unânime de exigir que a tribo de Benjamim entregasse os culpados, “os canalhas de Gibeá” (Jz 20.13, NVI).1 Como a intimação não foi atendida e a justiça precisava ser feita, as tribos partiram para medidas mais drásticas: declararam guerra à tribo de Benjamim. No final da história, foram travadas três furiosas batalhas, com muitas perdas em ambos os lados. A tribo culpada foi eliminada do mapa de Israel (homens, mulheres e crianças) e suas cidades, incendiadas. Apenas seiscentos benjamitas, todos do sexo masculino, conseguiram escapar e fugiram para o deserto. Quando a poeira finalmente assentou e toda a nação teve tempo para avaliar os estragos decorrentes de uma noite de orgia, a nação inteira chorou amargamente. Em voz alta, o povo se perguntava: “Ó Senhor, Deus de Israel, por que aconteceu isso? Por que está faltando uma das nossas tribos?” (Jz 21.3, NTLH).

Nota
1. “Canalha” é uma palavra muito forte. Ela está na Bíblia, na Nova Versão Internacional, para se referir a um grupo de homens que estuprou uma mulher a noite inteira, causando-lhe a morte.
Não é fácil traduzir o original hebraico que caracteriza esse tipo de gente. Versões católicas e protestantes variam muito. As traduções mais brandas usam as expressões “homens sem valor” (TEB), “homens imorais” (NTLH), “bandidos” (BJ e EP) e “homens malvados” (Bíblia Hebraica). Já outras versões falam de “pervertidos” (BP), “perversos” (BV), “depravados” (CNBB e AS21) e “celerados” (EPC). A Bíblia mais usada pelos protestantes (a tradução de Almeida Revista e Atualizada) prefere não traduzir a expressão original “filhos de Belial”.
Revista Ultimato







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